Todo cambia.

De como há anos que não me apetecia escrever e não escrevi.
De como tanto que mudei, que não me revejo nos antigos relatos.
De como prefiro estar em paz, a estar com outra pessoa.
E assim, tudo mudou.

 - Não podes estar em paz, estando com outra pessoa?
 - Posso, e depois de me investigar, percebi que não quero.

De como qualquer coisa rodou, ou tombou, ou se revelou.
De como agora e hoje, sei que quero estar sozinha.
De como, durante mais de dez anos vivi intensamente a Concha e agora posso escrever sobre ela.
E assim, tudo mudou.

Continuo a querer um Concho.


Passando o tempo, escasso de escrita, a verdade é que continuo a querer um Concho.
Os seres humanos são muito interessantes, na sua complexidade.
Creio que já percebi porque não tenho um Concho ainda.
Há cá um Concho em casa; não nos tocamos, falamos simpaticamente um com o outro, mas a paixão saíu porta fora há anos.
E pronto, continuo a querer um Concho, mas não assim.

Afinal, devagarinho, mas mesmo muito devagar, vou percebendo que é muito provavel que ainda não esteja preparada para o Concho que quero.  Quero-o,  mas temo-o. Faz sentido?

Faz para esta concha.
Dói-me a alma.

Encruzilhada


Eu sabia... mais tarde ou mais cedo este momento chegaria.

Parece que sempre cá esteve.

Uma vida de Concha cheia de encruzilhadas, de momentos de opção, de decisão.


São momentos que parecem só um. Nunca parou esta vida de decisões tomadas, de mudar de rumo.


Chegou mais um. Para onde vou eu agora?

Há mais que uma estrada, aqui onde estou parada.

Acho que já saí da areia da praia e ganhei pernas para andar, mas... para onde?

Afinal...



Não houve nada.
Nada mais que o olhar penetrante, que partiu conforme chegou.
Ainda bem.
Estava cheia de medo que me partisse algum pedaço da Concha que sou.
Lá se foi o olhar menino.
E a Concha está inteira.

Hoje vi uns olhos...

Há muito tempo que não via uns olhos assim.
Olharam-me de frente, sem medo, com segurança.

Sim, porque mesmo sendo uma concha menina, não há muitos olhos meninos que se prendam aos meus.

E os meus olhos de concha também ficaram ali presos, durante segundos. Eternos momentos.
Senti medo. E não sei porquê.

Esqueceste

Como é que pudeste esquecer?


Não basta um simples telefonema, uma chamada um bocado fria: vamos beber um café?
Sim, aceitei e à hora marcada, lá estava eu, com tudo o que trago sempre comigo - a vontade de te ver.
Bem pude esperar. Mais de meia hora e, de ti, nada.

Olhei para o telemóvel, não fosse tê-lo desligado. Mas não. Ligado e à tua espera.
Não disseste nada!Nada!
O que faz agora esta Concha, saída da areia da praia, de propósito para te ver?

Lembrei-me de ti

Foto de James Lohrey

Pois foi.
Relação terminada, não sei porquê (ou, se calhar até sei), hoje senti falta de ti.
Da segurança que tinha contigo.
Sobretudo, senti nostalgia, não foram saudades. Sempre estiveste lá para mim.

E só notei esta falta, quando, por alguma razão, me sinto só, estando acompanhada.
É a tal frase feita: só no meio da multidão.
Nostalgia de ti. Nostalgia daqueles tempos, juntos.
De qualquer forma, não voltaria a estar contigo da forma como já estivemos.
De Concha para Concho, isto não é uma declaração de amor, ok?
Talvez seja o reconhecimento - atrasado - da importância que tiveste na minha vida, da tua presença ao meu lado.
Tudo o que passa, já passou. Fica este reconhecimento.

Incongruências

Recebi esta por e-mail:

"Nunca um coxo treinou atletas para a maratona nem um mudo deu aulas de
dicção.
Só os padres não prescindem de dar conselhos sobre a reprodução e a
sexualidade!
"

Quero um Concho

Faz-me falta ter um Concho, um macho que me complete.
Sempre seria mais giro partilhar a minha vida com um Concho.

Mas, que raio! Vejo todo o tipo de conchos, aqui na areia. Muitos estão todos partidos, estraçalhados, magoados e eu que até sou uma Concha gira, pffff, nem me ligam. Só olham para o seu próprio sofrimento.

Quero também um Concho giro, amante, Concho macho, que me tire daqui e me leve a passear pelos oceanos.

E eu que já andei por tantos oceanos!!!


Agora estou aqui parada, sem concho que me abane, que me leve, que me faça enamorar.

o namorado da minha amiga


é uma sanguessuga.


Não quero que se interprete mal este desabafo de Concha do Mar, mas é uma forma de dizer. Uma forma de expressar.


Claro que o homem não a trata mal, pelo menos que eu veja. E ela também não se queixa.
Mas no meu canto, na areia da praia, vejo e sinto.
Aquele homem, com muitas dificuldades em reconhecer sentimentos e emoções, vive através das emoções dela. Ele sente, ele tem emoções e até reacções espontâneas e emotivas.
Mas, parece que, por si, se ela não existisse na vida dele, ele não agiria. Seria talvez uma concha até parecido comigo. Observando e não agindo.
Então, ela age por ele. Ela vive, ela sente. E ele vai de boleia e sente-se como ela: se ela estiver alegre, ele fica alegre. Se ela estiver mais triste, ele fica triste. Se ela ficar zangada, ele fica zangado. É como se aquele homem não tivesse personalidade própria. Baseia-se no sentir dela, para ele próprio sentir.

Era a isto a que me referia quando o considero uma "sanguessuga".

Parece que ele vive, não com ela, mas através dela.
Se é que isto é possível.