o namorado da minha amiga


é uma sanguessuga.


Não quero que se interprete mal este desabafo de Concha do Mar, mas é uma forma de dizer. Uma forma de expressar.


Claro que o homem não a trata mal, pelo menos que eu veja. E ela também não se queixa.
Mas no meu canto, na areia da praia, vejo e sinto.
Aquele homem, com muitas dificuldades em reconhecer sentimentos e emoções, vive através das emoções dela. Ele sente, ele tem emoções e até reacções espontâneas e emotivas.
Mas, parece que, por si, se ela não existisse na vida dele, ele não agiria. Seria talvez uma concha até parecido comigo. Observando e não agindo.
Então, ela age por ele. Ela vive, ela sente. E ele vai de boleia e sente-se como ela: se ela estiver alegre, ele fica alegre. Se ela estiver mais triste, ele fica triste. Se ela ficar zangada, ele fica zangado. É como se aquele homem não tivesse personalidade própria. Baseia-se no sentir dela, para ele próprio sentir.

Era a isto a que me referia quando o considero uma "sanguessuga".

Parece que ele vive, não com ela, mas através dela.
Se é que isto é possível.

what????

Isto é possível?
É possível que um jornal publique isto???
É verdade comprovada por estatísticas, que uma percentagem de divórcios em Portugal se deva a supostos "videntes"???
Vivemos em épocas tribais? Nas cavernas?

Publicado no Correio da Manhã de 29 de Janeiro de 2007

hiato

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Surpreendi-me.
De repente, como se tivesse acordado, esta ideia passou-me pela cabeça: tenho um gato!
Claro que sei que tenho um gato, claro que o vejo todos os dias, que o toco, pego ao colo, claro que o alimento, o trato. Há anos.
Não foi tanto o facto de eu ter o meu gato, aos pés, sorrateiro; é que hoje, passou por mim um hiato temporal de nulidade. Faltaram-me anos durante milésimas de segundos. Perdi memórias recentes no espaço de dar um passo e ter o gato aos pés.
Eu tenho um gato!
Eu sei que tenho um gato! Não deixou de me ser estranha esta sensação de que, durante milésimas de segundo, não reconheci o animal que tinha aos meus pés e veio esta frase à minha cabeça: eu.tenho.um.gato.

Caída na areia

Sempre fui uma Concha, caída na areia da praia.
Nunca estive parada, porque mar me acariciava, me levava e trazia. Conheço histórias, vivo daquilo que vejo e tenho tantos relatos para contar.
Porque não começar a contar o que tenho visto; porque não dar a minha opinião?
Então, porque sim, aqui ficam os relatos de uma Concha a quem deram o nome de Orinocco.